Desde 2018 venho ativando a ação “Fraco fio da memória”, em que me coloco, em comunidade, a desfiar juntas a bandeira do Brasil, por diversas corpas, em vários estados dessa terra nomeada Brasil. A este ato que venho encarando como uma revolta paciente, pois vamos desfiando, vagarosamente fio por fio, o símbolo que cobre o que foi nomeado “povo brasileiro”. Ao longo desse processo fui guardando os fiapos resultantes do desfio, consciente de que essa matéria carregada de energia e memória me mostraria o que fazer com ela. Deste movimento surge a instalação “Dessa terra tudo há de vingar”, que acolhe os fios desfiados da bandeira nacional que tomam as paredes do espaço expositivo e abrigam um monitor com o vídeo “Descobrimento” em que desenterramos esses fios desfiados da bandeira, buscando a força transmutadora e cultivadora da terra. Quando desenterramos esses emaranhados, há a possibilidade de pensar novos Brasis, descobrir outras memórias, histórias e narrativas que foram cobertas pelo manto monárquico e republicano da bandeira brasileira. “Dessa terra tudo há de vingar” é ao mesmo tempo um comentário sobre a narrativa única da história brasileira e seu maior símbolo nacional, tão disputado atualmente, mas também o gesto de entregar à terra aquilo que morreu, concomitante ao cultivo daquilo que pode sustentar a pluralidade das vidas, histórias, memórias e narrativas humanas e não-humanas. É um gesto contra-colonial de esperança na pluralidade da vida.
Todo de esta tierra crecerá: Desde 2018, he activado la acción «Fraco fio da memória» (el débil hilo de la memoria), en la cual, en comunidad, nos dedicamos a juntas deshilachar la bandera de Brasil, de la mano de diversas cuerpas y en varios estados de esta tierra llamada Brasil. Esta acción que la vengo asumiendo como una sublevación paciente, pues deshilachamos lentamente, hilo por hilo, el símbolo que abarca lo que se ha denominado como el «pueblo brasileño». A lo largo de este proceso, he ido guardando los hilos resultantes del deshilachado, consciente de que esta materia cargada de energía y memoria me mostraría qué hacer con ella. De este movimiento surge la instalación «Dessa terra tudo há de vingar» (Todo de esta tierra crecerá), que incorpora los hilos deshilachados de la bandera nacional, cubre las paredes del espacio expositivo y alberga un monitor con el video «Descobrimento» (Descubrimiento), en el que desenterramos los hilos deshilachados de la bandera, buscando la fuerza que transforma y cultiva la tierra. Al desenterrar la maraña de hilos, se abre la posibilidad de pensar nuevos Brasiles, descubrir otras memorias, historias y narrativas que han sido cubiertas por el manto monárquico y republicano de la bandera brasileña. «Dessa terra tudo há de vingar» es, al mismo tiempo, un comentario sobre la narrativa única de la historia brasileña y su mayor símbolo nacional —tan disputado en la actualidad— pero también es el gesto de entregar a la tierra lo que ha muerto, al tiempo que cultivamos lo que puede sustentar la pluralidad de las vidas, historias, memorias y narrativas humanas y no humanas. Es un gesto contra colonial de esperanza en la pluralidad de la vida.
palabras clave: Tierra, Brasil, hebra.
Everything on this Earth Will Thrive: Since 2018 I have been activating the action Fraco fio da memória, in which I put myself, as a community, to unravel the Brazilian flag together, for different bodies, in several states of this land named Brazil. I have seen this act as a patient revolt, as we slowly unravel, thread by thread, the symbol that covers what has been called the ‘Brazilian people’. Throughout this process, I kept the lint resulting from the challenge, aware that this material, full of energy and memory, would show me what to do with it. From this movement emerges the installation “From this land everything will flourish”, which shelters the frayed threads of the national flag that take up the walls of the exhibition space and house a monitor with the video Descobrimento (Discovery), in which we unearth these frayed threads of the flag, searching for the transmuting and cultivating force of the land. When we unearth these tangles, there is the possibility of thinking about new ‘Brazils’, discovering other memories, stories and narratives that were covered by the monarchical and republican mantle of the Brazilian flag. Dessa terra tudo há de vingar is at the same time a commentary on the unique narrative of Brazilian history and its greatest national symbol, so disputed today, but also the gesture of handing over to the land what has died, concomitantly with the cultivation of what it can sustain the plurality of human and non-human lives, stories, memories and narratives. It is a counter colonial gesture of hope in the plurality of life.
key words: Earth. Brazil. Lint.